Se você acha que o consumidor brasileiro gosta mesmo é de arroz, feijão, bife e batata frita, vai se surpreender. O Fantástico antecipa os resultados de uma pesquisa exclusiva, e os números não mentem: o gosto do brasileiro já não é mais o mesmo.
A pesquisa que será lançada esta semana compara o consumidor de hoje com aquele de 20, 30 anos atrás. O que comíamos e o que mudou na nossa alimentação. Como nosso dia-a-dia agora é diferente de alguns anos atrás.
Nós fomos às ruas para saber se o brasileiro se deu conta de tanta mudança. Primeira pergunta: hoje, a gente come mais ou menos arroz com feijão?
"Está comendo mais porque, realmente, o preço baixou um pouquinho, né?", comenta Sueli Cruz.
Será que a venda não caiu, não?
"Caiu? Não sei, porque eu como feijão para caramba!", conta a técnica em patologia Nair Angélica.
A pergunta agora é sobre o consumo de batata e açúcar. Caiu ou aumentou?
"Eu acredito que aumentou. É a comida do povo!", afirma a universitária Deise Jardim.
Para saber as respostas, o Fantástico faz um convite: sente-se à mesa com a gente. A mesa dos anos 70. De lá cá, o consumo de arroz caiu 46%, quase pela metade. O do feijão caiu um pouco menos, 37%. E o de batata teve uma queda de 58%.
O açúcar também esteve em baixa: 48% de queda das vendas.E o mesmo vale para as carnes.Veja só: o consumo da carne bovina caiu 10%. O de frango caiu 41%. Até o pão francês entrou nessa! Em 30 anos, o consumo baixou mais de 20% no Brasil.
E os produtos que tiveram aumento de venda, você saberia citar algum?
"Aumento de venda?", pergunta a técnica em patologia Nair Angélica.
Vamos listar cinco itens para facilitar o palpite: água mineral, refrigerante, iogurte, comida pronta e comida fora de casa.
"Desses cinco itens? A água, não é, né?", arrisca Nair.¶"Água mineral?", sugere a universitária Deise Jardim.
Todos os cinco ítens que a gente apresentou tiveram aumento de venda, sim. Vamos, então, à mesa do século XXI.
As vendas de iogurte no Brasil aumentaram oito vezes em três décadas, um crescimento de 702%. As de refrigerantes cresceram também: quase 500%. O consumo de água mineral foi às alturas: aumentou 5.694%. E cada vez mais se comem alimentos preparados: as vendas subiram 216%, no período que vai de 1974 a 2003.
"O famoso arroz e feijão perdeu importância para outras coisas. Nesse sentido, você tem um acesso generalizado a esse tipo de bem e esse bem pode gerar problemas de saúde pública", explica o organizador da pesquisa do Ipea Fernando Gaiger Silveira.
"Eu como mais na rua, né?", conta o ambulante Hélio Robson.
"Só faço comida em casa uma vez por semana", comenta Nair Angélica.
"As mulheres se incorporaram ao mercado de trabalho, a alimentação fora diminuiu de preço, os empregadores tiraram de dentro das suas empresas os refeitórios e passaram a financiar esse tipo de alimentação, ou seja, se generalizou a alimentação fora", afirma Silveira.
De cada R$ 3 que o brasileiro gasta com alimentação, R$ 1 é gasto com comida fora de casa.
“Coisas que às vezes não são muito saudáveis, né?", lamenta o ambulante.
Olhando para as ruas de antigamente, o que mais teria mudado? O transporte público no Brasil também não é o mesmo. E você vai ver como foi essa mudança.
Até alguns anos atrás, as empresas de ônibus urbanos nas maiores capitais transportavam juntas mais de 400 milhões de passageiros num só mês. Mas veja só o que aconteceu em apenas uma década. O número de pessoas transportadas caiu para pouco mais de 300 milhôes. Ou seja, um terço dos passageiros não pega mais ônibus. Mas, afinal, para onde foi aquela gente?
"Hoje em dia, as pessoas preferem gastar com a van porque é mais rápido", diz Hélio Robson.
"Antigamente, antes da van, ninguém podia entrar num ônibus, que era tudo lotado, andava tudo igual sardinha numa lata", lembra o ambulante Luiz Carlos da Cruz
Uma parte da renda do trabalhador brasileiro vai hoje para um ítem novo da pesquisa: o transporte alternativo.
"Em 1987 e 1988, nem era ítem de despesa, para você ter uma idéia", relata o pesquisador.
"A gente está com a maior pressa aí e o ônibus, o ônibus demora, demora, demora", afirma o aposentado Antonio do Nascimento.
"Prefiro o ônibus, que é mais segurança, né?", conta a dona-de-casa Sebastiana dos Santos.
Os brasileiros que mais gastam com transporte alternativo são os moradores do Recife e doRio de janeiro Quanto mais pobre é o passageiro, maior é o gasto que ele tem com vans e kombis.Piratas ou não.
"Acho que, para o povão, é uma boa!", afirma Deise.
"É um transporte que a regulação ainda está muito pouco definida", avalia o pesquisador.
"O transporte alternativo também não oferece seguro. Em caso de acidente, você não tem cobertura nenhuma. É muito complicado", explica o universitário José Ricardo Lírio.
"O transporte passa a ser ilegal e, para você regularizar ele, é que é o problema do setor público", analisa o pesquisador.
E uma última pergunta: transporte, alimentação ou educação? Qual dessas despesas foi a que mais cresceu no orçamento da família brasileira? Se você disse educação, acertou!
O gasto passou de 3,2% em 1988 para 5,5,% do orçamento familiar em 2003. O lado ruim dessa história é que para cada R$ 1 que os mais pobres gastam com educação, os mais ricos gastam R$ 25.
A pesquisa completa, que será divulgada quinta-feira que vem, em São Paulo, mostra que ainda há muitas mudanças a fazer até que tenhamos um país melhor e menos desigual.
FONTE: http://fantastico.globo.com/Jornalismo/Fantastico/0,,AA1566114-4005-690085-0-17062007,00.html
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